24 setembro 2010

PROTESTOS & PRETEXTOS


Passeio por entre pastas infestadas de textos, restos, trechos. Não sei ao certo se são protestos,
pretextos, caprichos, relaxos, se têm destaque ou são desleixo.

Talvez sejam manifestos incompletos que não confirmem nem contestem ou somente testes em anexo, que não prestam, sem contexto.

Remexo em prosas presas, confinadas em listas de repasse. Um esgoto eletrônico de trecos e trastes... de fósseis que não fosse a fossa informática, da minha vida não fariam parte.

Pois no tempo que tenho pra fazer o que gosto, estou limpando a caixa, dando baixa num monte de lixo e, por isso, cada vez mais longe da minha arte.

Portanto, reforço sempre que tenho chance, meu desgosto frente ao desgaste dos laços que se criam a partir dos falsos conceitos e medidas advindas desta cibernáutica avalanche (maremoto)... da síntese, da aglutinação das ferramentas catalisadoras do capital num “ENTER”, num instante (remoto).

Velocidade não é pressa, crédito não é confiança, finanças não pagam a liberdade, valores não têm preço, informação nem sempre é conhecimento, tempo não é prazo e tamanho não é documento. E o invento, onde de fato cresço, se mostra cada vez mais consumido, copiado, capitalizado e corrompido... escasso de idéias mas de cifrões espesso.

O excesso tende a nos esgotar. As novas tecnologias não conduzem ao avanço, ao contrário, trazem a sensação de estarmos eternamente aquém. A falta não caracteriza-se a partir daquilo que não temos, mas sim da necessidade de obtermos sempre mais do mesmo. Uma falsa evolução se formata à medida em que nos tornamos cada vez mais dependentes de um futuro em concordata.

Meu protesto não propõe o desapego aos avançados mecanismos de comunicação e conhecimento e suas diversas possibilidades, mas destaca a forma desigual, exagerada e caótica como estas se apresentam dentro da nova realidade.

Na fronteira cibernética entre reais falsários e falsos mitos, superficiais relações nos trancafiam em digitais vitrines e virtuais apoteóticos ritos.

Face este fosso de farsas, frente ao sucesso das cifras e ao fracasso da grande massa, acho uma brecha em meio ao cansaço e racho meu frasco de frases no espaço. Esboço minha revolta e volto ao escopo. Incho meu prefácio, encho um copo de rimas sem culpa e, em cima da poesia fluente, arremesso aqui minha catapulta de ingredientes:

Este texto contém litros de letras e palavras livres. Não contém glúten, apenas conservantes, que se propõem a reter o eterno prazer pela escrita, o amor a leitura e, acima de tudo, de um jeito franco, a conservação do artista e seu papel: amassado, rasgado mas nunca, jamais em branco.