22 março 2011


CERTIDÃO DE ÓRBITA

Estava experimentando algumas tendências pra minha mais nova videoarte, quando dei a luz a um curioso painel, talvez o mais polêmico até aqui. A princípio, a ilustração me chamou a atenção apenas pelo lirismo gráfico e pela fidelidade ao mote que pretendo ditar nas projeções. Eis que num estalo, num trago, pigarro, me vi diante de uma das cenas mais trágicas da história dos romances e muito mais existencialista do que pretendia ou podia imaginar. Um cenário que tinha eu acabado de recortar, remontar e assassinar. Uma morte impensável e altamente reveladora.

Pensei: Porra, matei o pequeno príncipe! Sou um filha da puta, um doente, inimigo das criancinhas e dos poetas, um ser abominável e impiedoso. Mas bicho, se a NASA chegou tripulada ao B-612 é porque a merda na Terra está de fato muito grande e eu não vou me responsabilizar sozinho por isso.

O ‘moleque’ (melhor pensando eu-criador frente a criatura-ilustração) se matou com a ideia de ter seu modesto quinhão flutuante invadido por terráqueos altamente sociáveis, embora sensacionalistas, fofoqueiros, vaidosos e controladores, que até então serviam apenas de hospedeiros em suas viagens intergalácticas. Seres egoístas, dominadores e agressivos. Que matam uns aos outros com a pretensão de dominar a qualquer preço o universo.

Diante disso, conclui que não fui eu quem o matei, nem ele que suicidou-se. O guri foi forçado a se matar. Respirei, digeri melhor o conceito e acabei me sentindo perdoado pelas forças artísticas do Cosmos.

Sem mais pensar na ‘causas mortis’ do pobre menino, mas na semelhança do personagem com nossos arquétipos contemporâneos, tracei um paralelo e cheguei a conclusão que somos todos pequenos príncipes.

Em uma galáxia cibernética, em nossos plaNETs particulares, em asteróides enevoados por partículas de silício e litium, em pequeninas atmosTELAS e grandes possibilidades. Viajando e isolando-se, regando nossa flor social diariamente e exercitando cada vez mais nossa solidão, seja ela dividida ou não.

Só que ao contrário do personagem em questão, nós não só permitimos, como solicitamos invasões e devassas aos nossos mundinhos. Como se ao invés de nascer para um mundo novo a cada descoberta, morrêssemos um pouquinho diante da intimidade revelada, da novidade divulgada e descartada em segundos. Do sigilo escancarado e logo arremessado às traças.

Exercício que nos faz explorar, cada vez mais, a vida superficial das pessoas, atrás daquilo que desejamos profundamente para nós mesmos: O OUTRO!

Já NOS invadimos faz tempo. E quando destruirmos essa porra toda e não tivermos mais condições de viver por aqui, buscaremos outras regiões habitáveis para continuar dominando e destruindo.

É mais cômodo desistir da ideia de inexistir fazendo com que o semelhante desista de si.



Tomás Paoni



* A imagem que ilustra e sentencia este texto integra a videoarte ‘E NO MEIO DO AMBIENTE, em fase de acabamento e disponibilizada em tempo real aqui, linke-se!