17 janeiro 2012


Nosso conceito de gravidade está no vácuo!

Mulheres são violentadas todos os dias fora do BBB e, sinceramente, não vejo tanta repercussão tampouco revolta diante disso, pelo menos dentro do meu convívio. O que vejo são pseudo-pitis extravasados por meio de publicações sem muito conteúdo. Estas que nem sequer foram escritas pelos mesmos, mas sim lidas e repassadas, que se esvaziam em segundos diante da avalanche de besteirol internético e televisivo que camuflam ou exacerbam a veracidade, a complexidade, o questionamento e a relevância dos fatos.

E quando me refiro a mulheres violentadas além BBB, falo das donas de casa e mães de família. Anônimas. As mesmas que não fazem parte do universo mesquinho e alienado das redes sociais, embora também assistam a Reality Shows e revoltem-se contra a mesma notícia – contradição esta que prorrogo prum outro debate.

Não afirmo que por ser fútil e desprezível - como são todos, sejam homens ou mulheres, àqueles que frequentam a casa mais estuprada do Brasil - que alguém tenha mais ou menos "merecimento" de sofrer abuso ou violência, seja ela qual for. Ninguém tem! Meu questionamento é quanto aos meios e de que forma tomamos ciência da gravidade dos acontecimentos. É como chegamos aos canais e como estes nos chegam. É o que nos revolta, como nos revoltamos e o que fazemos com nossa indignação.

A patricinha popozuda da cobertura 04, no alto de seu scarpin e casaco de pele legítimo, revolta-se diante do acontecimento chocante que observa pelo mosaico com mais de 20 câmeras de seu Pay Per View. Chega até a derrubar champanhe em seu tapete persa. Acha revoltante uma mulher como ela sofrer uma moléstia desta magnitude. Liga pra todas as amigas e publica em seu perfil no Facebook o quanto está indignada e perplexa com o ocorrido. Por ora, a própria não se sensibiliza com os hematomas e olhos roxos de sua empregada, que ao chegar atrasada pela manhã por ter sido forçada a transar com seu próprio marido na mesma noite em que a dondoca assistia a “barbárie da casa do Bial”, recebe um solene esporro de sua bigboss e uma ameaça iminente de paredão (lê-se demissão). Pra ela uma mulher humilde e pobre ser estuprada é comum, mas uma siliconada e devassa no BBB é a primeira vez.

O Big Brother, assim como a Rede Globo de Televisão estupram nossa capacidade intelectual. Nossa porra nenhuma porque eu não assisto essa merda. Neste caso, claro, é uma escolha sermos ou não violentados. Por ora, aquele que se presta a participar deste tipo de ambiente, gincana, bacanal, seja lá como queiram chamar, não tem meu respeito nem minha compaixão. Assim como o "estuprador" em questão, Daniel, não merece minha atenção, a “estuprada” também não. Os mesmos que chamavam a tal Monique de puta antes do programa começar, agora a tratam como vítima, frágil e indefesa.

Estão revoltados? Exijam na hora das urnas e fora delas que a lei Maria da Penha seja cumprida com rigor. Lutem para que se denuncie a violência doméstica contra as mulheres. Tratem melhor nossas meninas.

Tenho uma filha de 3 anos e me preocupo muito com este tipo de questão. Pode não surtir efeito algum, mas no pacote da educação que dou a minha pequena, inclui não assistir a programas nem a canais como estes.

E antes mesmo que alguém questione que sou a favor do estupro em rede nacional ou que não tenha coração por não ter me sensibilizado nem um pouco com a cena, vos digo: Não aprovo a atitude do abuso, se é que aconteceu mesmo de forma "natural" e não forjada. Contudo, tenho o direito de não aprovar e questionar o bom gosto, o discernimento e a alienação dos que assistem a esse estupro global chamado BIG BROTHER BRASIL. Tenho o direito equivalente de me revoltar com a contradição das pessoas e a demagogia reinante num país em que milhões assistem a essa aberração televisiva enquanto somos roubados aos milhões todos os dias por nossos governantes em Brasília. Nessas horas tenho vergonha do Brasil, tenho vergonha de ser brasileiro, vergonha do Facebook e, por vezes, vergonha de mim.

PS 1: Tem gente que pede pra ser currada, dando corda pra se enforcar e foda pra se currar. Digo isso aos que asssitem BBB e não me refiro diretamente a pessoa violentada no programa. QUE FIQUE CLARO!

PS 2: Será preciso que o BBB nos mostre a "realidade" ali dentro para que, cá fora, façamos algo contra a imoralidade e criminalidade nada contestadas de nossos semelhantes???

Tomás Paoni